Ondas do Pentecostalismo: você já ouviu esse termo?
O que ele tem a ver com o crescimento explosivo de igrejas evangélicas no Brasil, com cultos cheios de música, curas, profecias e até espetáculos de fogo espiritual?
Neste artigo, vamos percorrer o movimento pentecostal em três grandes fases — da chegada dos primeiros missionários à era das megaigrejas midiáticas.

Cada onda carrega suas marcas, seus heróis e suas contradições.
Primeira Onda do Pentecostalismo — O Avivamento Missionário (1910–1950)
Prepare-se para mergulhar em uma história viva, marcada por fé, conflitos, reinvenções e poder.
Você pode até reconhecer sua própria história de fé em alguma dessas ondas.
As Ondas do Pentecostalismo no Brasil começam oficialmente com a chegada de dois missionários suecos: Gunnar Vingren e Daniel Berg, que desembarcaram em Belém do Pará em 1910.
Vindos dos Estados Unidos, onde haviam sido impactados pelo movimento pentecostal iniciado na Rua Azusa (Los Angeles, 1906).
Vingren e Berg traziam uma nova ênfase espiritual: o batismo no Espírito Santo com evidência de falar em línguas, curas divinas, profecias e sinais espirituais.
A Primeira Onda é marcada por um forte ideal missionário e por uma espiritualidade intensa, focada na oração, no jejum e na busca por santificação pessoal.
As igrejas que nasceram desse movimento foram fundamentais para a expansão do pentecostalismo no Brasil. É o caso da Assembleia de Deus, fundada oficialmente em 1911.
Também da Congregação Cristã no Brasil, iniciada por Luigi Francescon em 1910. Esta última tinha raízes no pentecostalismo italiano e norte-americano.
Essas igrejas alcançaram os pobres, analfabetos, migrantes e marginalizados dos grandes centros urbanos e das periferias.
É importante destacar que, apesar da forte presença estrangeira no início, esse pentecostalismo era profundamente brasileiro em sua forma de expansão: oral, relacional e comunitária.
Havia uma desconfiança mútua entre os pentecostais e as igrejas protestantes históricas (batistas, presbiterianos, metodistas), que viam o novo movimento como emocionalista e pouco bíblico.
Segunda Onda do Pentecostalismo

O Pentecostalismo Nacionalizado (1950–1980)
A Segunda Onda marca uma virada importante nas Ondas do Pentecostalismo.
Nesse período, o movimento deixa de depender de missionários estrangeiros. Passa a ser liderado por brasileiros.
Esses líderes tinham forte apelo popular. Também traziam uma visão evangelística voltada para as massas urbanas.
Neste cenário dois nomes se destacam:
Manoel de Mello, fundador da Igreja Evangélica “O Brasil para Cristo” em 1955, em São Paulo.
Mello era um pregador carismático que usou os meios de comunicação — especialmente o rádio — para espalhar a mensagem pentecostal.
Enfrentou forte resistência das autoridades e de outros segmentos religiosos, inclusive pentecostais clássicos, por seu estilo mais “agressivo” e direto.
O outro nome que se destacou foi o do pastor David Miranda, fundador da Igreja Pentecostal Deus é Amor em 1962, também em São Paulo.
Conhecida por sua rigidez doutrinária (com regras severas de vestimenta, comportamento e separação do mundo), a igreja cresceu rapidamente entre os mais pobres.
Miranda enfrentou diversas críticas, tanto por seu autoritarismo quanto pelas práticas litúrgicas consideradas extremas, como longas sessões de exorcismo e jejuns coletivos.
Além dessas igrejas mencionadas, vale destacar a Igreja do Evangelho Quadrangular. Ela foi fundada no Brasil por missionários americanos, na década de 1950.
O Evangelho Quadrangular ganhou expressão entre os brasileiros. Seu destaque veio das campanhas de cura, libertação e prosperidade.
Esta fase marca a ampliação do pentecostalismo nas grandes cidades, especialmente em São Paulo, e sua penetração nas classes populares.
A linguagem se torna mais acessível, o culto mais emocional, e a ênfase nas necessidades cotidianas do povo (cura, emprego, libertação, restauração familiar) é o motor da pregação.
Surgem os primeiros embriões de uma teologia pragmática, que busca resultados visíveis no aqui e agora.
Terceira Onda do Pentecostalismo

A Era do Espetáculo e do Fogo (1980 até hoje)
A Terceira Onda é a fase do pentecostalismo midiático e performático.
Esta onda abraça a lógica do mercado religioso e incorpora práticas de entretenimento, coaching motivacional, espiritualidade de consumo e guerra espiritual simbólica.
É neste contexto que floresce o que alguns chamam de Teologia do Fogo.
Esta teologia é baseada em expressões como “toma posse”, “recebaaa”, “cai no manto” “reteté” e outras que estimulam manifestações corporais intensas como prova da presença do Espírito.
Cultos se transformam em verdadeiros shows espirituais, com iluminação cênica, música estrondosa e linguagem altamente emocional.
Também emerge, de forma crítica e polêmica, o chamado Neopentecostalismo Macumbeiro.
Esta expressão denuncia a apropriação de práticas afro-brasileiras (como rituais de descarrego, uso de sal grosso, unções com óleo em objetos e espaços) dentro do culto evangélico.
Claro, que isto se deu sem o devido reconhecimento cultural ou reflexão teológica.
Igrejas como a Universal do Reino de Deus, a Internacional da Graça de Deus e outras similares foram acusadas de sincretismo religioso.
No entanto, elas argumentam que tais práticas são como “estratégias espirituais” contra as forças malignas.
A Teologia Negra no contexto das Ondas do Pentecostalismo
A Teologia Negra surgiu como uma resposta crítica e reflexiva ao racismo presente nas instituições religiosas tradicionais, incluindo as evangélicas.
Desenvolvida principalmente nos Estados Unidos a partir da década de 1960, essa teologia busca resgatar a dignidade, a cultura e a identidade do povo negro à luz da fé cristã.
No Brasil, embora tenha menos visibilidade dentro do pentecostalismo tradicional, a Teologia Negra influencia movimentos e líderes que buscam denunciar as injustiças sociais e raciais.
Ela propõe uma leitura bíblica que valoriza a experiência negra, questiona as estruturas de poder e promove a libertação integral.
Diferente do pentecostalismo mainstream, que em geral foca na prosperidade individual e na espiritualidade de cura, a Teologia Negra enfatiza a luta coletiva contra o racismo e a opressão.
Ela contribui para ampliar o debate teológico no Brasil, trazendo uma voz necessária para as comunidades negras no meio evangélico.
O que diferencia as Três Ondas do Pentecostalismo?
Acompanhe abaixo um quadro diferenciando as Três Ondas do Pentecostalismo no Brasil.
Característica | Primeira Onda | Segunda Onda | Terceira Onda |
---|---|---|---|
Período | 1910–1950 | 1950–1980 | 1980 até hoje |
Fundadores/Destaques | Vingren, Berg, Francescon | Manoel de Mello, David Miranda | Edir Macedo, R.R. Soares, Valdemiro Santiago |
Ênfase Teológica | Dons espirituais, santidade | Cura, libertação, evangelismo popular | Fogo, prosperidade, espetáculo |
Meios de expansão | Relacional e comunitário | Rádio, TV e grandes campanhas | Marketing, redes sociais, mídias digitais |
Liturgia | Simples e reverente | Emocional e popular | Espetacular, performática, visual |
Qual o futuro do Pentecostalismo no Brasil?
Diante de tantas transformações, fica a pergunta: para onde vão as próximas Ondas do Pentecostalismo?
Vemos um movimento pendular entre radicalizações espirituais, institucionalizações e reinvenções culturais.
Há também uma nova geração de pentecostais críticos, que buscam uma fé mais coerente com os direitos humanos, a justiça social e a ética evangélica.
O desafio é conciliar o fervor espiritual com o compromisso bíblico e o respeito à diversidade.
Conclusão:
As Ondas do Pentecostalismo no Brasil não são apenas episódios religiosos — são janelas abertas para entender a alma do povo brasileiro em suas lutas, esperanças e crenças.
Cada fase revela tanto o poder de adaptação do pentecostalismo quanto seus riscos de desvios e manipulações.
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E você, leitor? Você já participou de alguma dessas expressões pentecostais? Reconhece aspectos da sua própria história espiritual nesses movimentos?
Qual sua opinião sobre o caminho que o pentecostalismo tem trilhado no Brasil?
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