O livro de Jó toca em várias questões importantíssimas para o ser-humano. A primeira delas é por que existe o sofrimento? qual é a sua origem e causa e porque isso acontece comigo? A essa questão o livro de Jó não responde adequadamente. A dor da perda, para alguns, é insuportável.
Ninguém vive a dor igual. A dor é não quantificável, a medida da dor é vivenciada conforme entranhamentos mentais e espirituais.
A segunda questão é: Existe sofrimento inocente? A essa outra questão o livro de Jó responde adequadamente. Aliás, o fato de não duvidarmos mais do sofrimento inocente se deve ao livro de Jó.
A terceira e grande questão em Jó, que empalidece as outras, é um problema existencial.
São questionamentos íntimos, por que sofro? o que me faz sofrer? o que devo fazer quando estou sofrendo?
Jó fora severamente, sistematicamente atacado por Satanás em todas as áreas de sua vida. Jó perdeu tudo o que tinha. De repente, de um homem rico e próspero, Jó estava pobre.
Sua saúde estava abalada, ele estava perturbado mentalmente, extremamente decepcionado com a vida e principalmente com Deus.
Jó viveu uma angustiante experiência que abalou seus alicerces emocionais.
A dor de Jó era imensurável, não quantificável, impossível de se descrever, a não ser com gemidos, ou o silêncio. Os amigos de Jó ficaram sentados com ele, em silêncio durante sete dias e sete noites.
A maior perda de uma pessoa
Jó sofreu a maior perda que uma pessoa pode ter: ver o seus filhos morrerem.
O patriarca teve sete filhos e três filhas e de uma vez, todos morreram. Jó perdeu, no mesmo dia dez filhos. Sua dor era insuportável.
Uma coisa que muitos não entendem, é que apesar de que foram muitos os filhos mortos de uma vez, cada sepultamento é único.
Quando se sepulta uma pessoa, se sepulta um mundo de sonhos, de desejos, de esperanças. Cada vida é uma história, uma vivência, um sorriso diferente, um trejeito único.
Não diria que a pessoa goste mais desse, ou mais daquele, mas sim que reconhece amar algumas coisas nessa pessoa que a outra não tem.
Cada filho e cada filha tem gestos, maneiras, palavras, peculiaridades únicas. Ninguém é igual a outra pessoa no mundo inteiro.
Cada perda é única e diferenciada
Uma pessoa é obra exclusiva de Deus e mesmo que alguém até possa se parecer com outra, não é a outra e nunca será. Cada perda é única e sofrida de forma diferenciada.
Amamos mais quem mais nos amou. Somos amados por quem mais recebeu do nosso amor.
Há uma reciprocidade não quantificável na doação do amor.
Enterrar um filho é inverter a ordem natural da vida e nas palavras de Jô Soares: “É a pior dor que um pai pode sofrer”, ao se referir à perda de seu filho, que morreu com câncer, aos cinqüenta anos.
A dor da perda do amor
Mas existem outras perdas que causam dor, que abala a pessoa, embora não seja definitiva, como a perda para a morte, ela tem um poder igualmente destrutivo, e de dificil superação.
Uma destas dores é perder alguém amado.
Ver a pessoa ir embora, pois ela escolheu viver a sua vida sozinha.
Para alguns esta situação é insuportável. É morrer em vida, a perda definitiva, de alguém… vivo.
A dor da perda ministerial
Existem outras perdas também muito difíceis de suportar, como alguém que perde o cargo ministerial.
Imagine um pastor, por exemplo, que por alguma razão acaba se afastando do ministério.
Quem afasta-se, tendo culpa ou não, sofre, imensamente a dor de se imaginar rejeitado pelo próprio Deus.
Uma das piores coisas do mundo, para um pastor, é ver a sua Igreja fechar.
De certa maneira, uma outra perda, pouco tratada, é o obreiro ter que sair de sua Igreja, por alguma divergência e ter que ir embora, de uma Igreja que amou e ainda ama.
A dor do desemprego
A perda, tem várias facetas, uma mais feia do que a outra. Numa época de uma crise financeira tão forte, que até parece que não vai passar mais.
Alguém que tinha um emprego estável, bem remunerado, ver-se de repente desempregado, é um baque tão forte, que alguns não conseguem se levantar mais e desistem de lutar.
Existem outras perdas, também extremamente dificeis, como alguém perder num acidente uma perna, ou um braço. É uma perda, traumatizante.
A dor da perda nunca será esquecida
Uma vez, em mais de vinte anos de ministério, aconteceu de ter de falar palavras amigas a uma mãe jovem, que acabara de perder o filho pequeno de menos de um ano. A mulher estava inconsolável e eu tentava consolá-la.
Pela misericórdia, Deus nos deu sabedoria naquele dia e conseguimos ministrar uma palavra de conforto a angustiante mãe. Depois, oramos por ela.
Lembro-me claramente, que a palavra fora sobre o Salmos 137. Israel estava cativo. No exílio na Babilônia, é pedido a Israel que cante seus belos hinos a Deus, como cantavam próximos às palmeiras de sua terra.
A quem está vivendo uma perda horrível, onde todo o seu ser é provado, alguns dizem que o tempo vai fazer esquecer o que aconteceu.
A perda nunca será esquecida. Teremos que repensar a vida, recondicionar o futuro, mas esquecer, jamais.
Convivendo com a dor da perda
Como esquecer quem perdemos, mas ainda amamos? Impossível esquecer amigos que se foram, talvez para sempre, porque mudamos de cidade ou país?
Como esquecer o pai que morreu, ou a mãe? Como esquecer o filho que enterramos? Não dá pra esquecer!
Talvez dê para repensar a vida, reorganizar, mas não esquecer. Ninguém pede para esquecer, nem Deus. A dor da perda é uma dor que vamos ter que conviver com ela para sempre. Alguns não vão conseguir serem produtivos mais e vão travar no caminho.
Outros vão superar e encontrar forças dentro de si, de onde nem eles sabiam existir.
Como esquecer o abraço, o beijo, o momento feliz e único? Não, a proposta não é você esquecer, mas aprender a conviver com isso.
A vida continua, quer a gente queira ou não.
O testemunho de Elifaz a respeito de Jó
Elifaz, um dos amigos de Jó, deu um testemunho espiritual do tamanho do homem que era Jó. Elifaz lhe diz: “Pense bem! Você ensinou a tantos; fortaleceu mãos fracas.
Suas palavras davam firmeza aos que tropeçavam; você fortaleceu joelhos vacilantes. Mas agora que se vê em dificuldade, você se desanima; quando você é atingido, fica prostrado. Sua vida piedosa não lhe inspira confiança, e o seu procedimento irrepreensível não lhe dá esperança? Jó 4:3-6”
Isso é um testemunho de quem era Jó, um amigo, um altruísta, alguém que dava a sua vida para ajudar o próximo.
Eu fico impressionado com essas palavras. Temos aqui um testemunho espiritual de Jó. Esse é um reconhecimento vindo de Deus.
Apesar de que Jó estava passando por um momento dos mais difíceis para qualquer pessoa, ele ainda tinha o reconhecimento de Deus, de que ele era um grande homem de Deus.
Essa palavra fala tão de perto conosco. Pois são muitas as horas em que a nossa tristeza, ou dor, é tão grande, que nos esquecemos dessas boas obras, que já fizemos.
Mas são essas mesmas obras, que um dia plantamos, que dão testemunho de nós.
Você que ajudou tantos – continua – agora que está passando por dificuldades se desanima, se angustia, se apequena?
Você foi atingido, e ficou prostrado, caído, jogado ao chão.
Aqui, há o reconhecimento de que o que você está passando não é simples e nem é para qualquer um.
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Apesar da situação em que você possa estar, Deus te lembra que você tem um testemunho na Terra e um reconhecimento no Céu. Você tem uma vida com Deus.
Você é chamado de crente irrepreensível. Isso não lhe dá esperança? Os seus problemas são parte da vida. São difíceis? Sim. Insuportáveis?
Talvez. Mas Deus te lembra hoje que suas obras estão perante Ele e sua vida está escondida Nele.
Não estamos esquecidos, apesar da dor.
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