A cruz é a dissipação das trevas

Existem dois pontos muito lembrados no livro de Jó, que são a sua provação no capítulo 1 e a sua restauração no capítulo 42. Vamos estudar o roteiro da questão do sofrimento no livro de Jó. A finalidade de nosso estudo é detalhar como a ira de Deus é desviada de nós, pecadores. Nossa absolvição se dá na cruz de Cristo, onde Deus se entende com Deus.

Não entendeu? Então explico, é como se um filho tivesse feito alguma coisa errada, e um dos pais quisesse aplicar o castigo, mas o outro intercede e assim o malfeitor, no caso, o filho é perdoado. Foi assim com você, foi assim comigo. 🙂

Mas passemos a narrativa da história de Jó. Num dia em que os anjos vieram apresentar-se perante Deus, Satanás veio com eles e Deus perguntou para Satanás se ele tinha visto seu servo Jó? Satanás acusa então Deus de guardá-lo em tudo, o que Deus então permite que tudo o que Jó tinha, estivesse nas mãos de Satanás.

O livro de Jó toca em várias questões importantíssimas para o ser-humano. A primeira delas é por que existe o sofrimento; qual é a sua origem e causa e porque isso acontece comigo? A essa questão o livro de Jó não responde adequadamente.

A segunda questão é: Existe sofrimento inocente? A essa outra questão o livro de Jó responde adequadamente. Aliás, o fato de não duvidarmos mais do sofrimento inocente se deve ao livro de Jó. 

A terceira e grande questão em Jó, que empalidece as outras, é um problema existencial. São questionamentos íntimos, por que sofro? o que me faz sofrer? o que devo fazer quando estou sofrendo?

Jó e as crises existenciais

Deus se entende com Deus
Na cruz de Cristo cessa todo nosso sofrimento futuro

Em comparação com essa questão da existência humana, a primeira é de origem acadêmica e teórica. A segunda questão acerca do sofrimento é na verdade simples. 

Entretanto a terceira pergunta que fala sobre o por que sofro, o que me faz sofrer e o que devo fazer quando sofrendo, a proposta de uma resposta é dada em todo o livro de Jó.

O livro inteiro de Jó tenta responder como posso sofrer. Jó toca num assunto básico da nossa existência: o sofrimento existe para nós seres-humanos. Já foi dito que o ser-humano é diferente dos animais, principalmente pela grande resposta de Descartes resumida numa única frase: “Cogito, ergo sum”, ou “Penso, logo existo”.

O ser humano é o único ser capaz nessa terra de pensar e analisar o que pensa. O ser humano sofre e tem consciência que sofre. E saber que sofre, já é um sofrimento.

A provação de Jó

Com certeza a passagem mais lembrada de Jó é o seu capítulo primeiro, que fala sobre a sua provação. Em quatro pontos cardiais: do Sul o ataque foi contra o gado, ou a vida financeira. Do Oeste foram as ovelhas, que representam a vida financeira e os sacrifícios perante Deus, a vida espiritual.

No Norte os camelos foram roubados. Eles representam a mobilidade ou o transporte, agora impossibilitado. Do Leste o ataque derradeiro contra a família que matou, através de um tufão, os seus dez filhos de uma vez. Além disso Jó ficou com uma doença mortal.

A segunda passagem mais lembrada de Jó é justamente o ultimo capítulo onde Deus restaurou a sua vida financeira, espiritual e familiar, quando foi mandado por Deus a orar pelos amigos.

O medo de Jó

Poderíamos procurar alguma brecha na pessoa de Jó. Tentar saber por que aconteceu tantos malefícios com ele e a única resposta que encontramos é dita pela sua boca. “Porque aquilo que temia me sobreveio; e o que receava me aconteceu. Nunca estive tranqüilo, nem sosseguei, nem repousei, mas veio sobre mim a perturbação.” Jó 3. 25-26

Jó tinha medo. E tudo o que lhe aconteceu foi justamente o que ele temia. Podemos imaginar que mais especificamente, o que Jó tinha medo era de que seus filhos pecassem contra Deus. Jó 1:5 denuncia isso. “Terminado um período de banquetes, Jó mandava chamá-los e fazia com que se purificassem.

De madrugada ele oferecia um holocausto em favor de cada um deles, pois pensava: “Talvez os meus filhos tenham lá no íntimo pecado e amaldiçoado a Deus”. Essa era a prática constante de Jó”.

Jó oferecia sacrifícios em favor dos seus filhos. Isso até parece muito bonito mas não é. Seus filhos não poderiam crescer se o pai arrumava um jeito perante Deus de seus filhos serem perdoados. Quem deve oferecer o sacrifício, lembrando como era no Antigo Testamento, era o pecador e não outra pessoa qualquer, por mais bem intencionada que pudesse estar.

Jó, figura de um intercessor imperfeito

Deus permitiu que sobreviesse sobre Jó, tudo o que lhe sobreveio, como forma de tratamento divino. O medo de Jó era tanto, que como ele mesmo disse, nunca esteve tranquilo, nem sossegou, nem repousou. 

O medo destruía Jó e mesmo que sua vida financeira estivesse bem, que tivesse muito gado e ovelhas e servos e bons filhos que se reuniam sempre e uma boa esposa do lado, Jó ainda assim não se tranquilizava.

O medo de Jó era tanto que o impedia de deixar que seus filhos se resolvessem por si sós com Deus, ele se sentia na obrigação de fazer algo. 

Isso nos ensina que devemos orientar aos nossos filhos a respeito de Deus e dos seus mandamentos, mas eles, tendo a idade apropriada terão que dar conta de suas vidas. Os pais são desobrigados de responderem pelas atitudes de filhos com idade de saber o que é certo ou errado.

De certa maneira Jó representou a Jesus, quando intercedia com sacrifícios a Deus por seus filhos. Mas o seu sacrifício não era em confiança, mas abalizado pelo medo. Jó intercedia, o que era correto, mas pelos motivos errados.

Jó invoca Deus para defendê-lo de Deus

Mas ainda existe uma outra grande questão no livro de Jó e que é o texto chave desse estudo: Jó invoca Deus para defendê-lo de Deus. “Saibam que agora mesmo a minha testemunha está nos céus; nas alturas está o meu advogado.

O meu intercessor é meu amigo, quando diante de Deus correm lágrimas dos meus olhos; ele defende a causa do homem perante Deus, como quem defende a causa de um amigo.” Jó 16. 19-21

Ou por puro desconhecimento ou puro descaso, Jó não tem Satanás como o causador de sua sina, mas a Deus. Jó não culpa a Deus, mas seu sofrimento é tanto que ele, sem o saber, inspirado pelo Espírito Santo, resume a grande crise da Cruz, que é Deus se entendendo com Deus, na Cruz de Cristo.

Jó profetizou o ministério de Jesus ao dizer que ele tinha uma testemunha no céu, e que nas alturas estava o seu advogado. O intercessor que ele chama de amigo, e que defende a sua causa não é outro senão Jesus. Jó sabia que não há outro maior do que Deus, e num ato impressionante invoca ao próprio Deus para defendê-lo de Deus.

É como se Jó sabendo que Deus é bom e justo, por razões que ele desconhecia o estivesse tratando com tanto sofrimento. Jó apela para Deus defendê-lo do próprio Deus. Deus me defenda do Senhor mesmo, dizia Jó, por não ter a quem apelar.

Deus provê um meio de justificação para si

Quando Jó invoca um advogado no capítulo 16, nós podemos ver a humanidade invocando um advogado de defesa para si, sendo que a humanidade deveria ter é um promotor de acusação. A nossa acusação é o pecado, que precisa se resolver com Deus.

Paulo nos fala que tanto judeus, como gregos, todos estão debaixo do pecado, não há um justo, nem um sequer. (Rm 3. 9-10) Deus então prove meios de resolver essa questão.

Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas. Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que creem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus.

Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. Rm 3. 21-26

A Cruz é a justificação do caráter de Deus

O Dr. Loyd-Jones nessa exposição de Romanos 3, nos fala que a Cruz é a justificação do caráter de Deus. “Deus estava abrindo um caminho de salvação pelo qual nós pudéssemos ser perdoados.

Mas Ele tinha que fazer isso de uma forma que mantivesse seu caráter íntegro, que conservasse absoluta e ininterrupta a sua eterna coerência. A partir do momento em que encaramos tudo isso desta forma, vemos que é a coisa mais tremenda, mais gloriosa, mais estupenda no universo e de toda a história.”

Mas talvez possa nos passar desapercebido que Deus estava pronto a destruir a humanidade no momento da Cruz. “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça”. Rm 1. 18

Paul Washer afirma que, a Cruz assume um sentido amoroso, de um Deus amoroso e gracioso, que deu a sua vida por nós. Porém o sentido original era de juízo e derramamento da ira de Deus sobre o cordeiro que estava sendo sacrificado. Recaiu sobre Cristo na Cruz toda a Ira de Deus.

No momento da Cruz, Deus estava pronto a destruir a humanidade. A Cruz foi um momento crucial na história e na eternidade. Ao meditarmos sobre o que é eternidade, notamos que a Cruz é a única coisa que a divide em antes e depois. A Cruz de Cristo era gravíssima, seríssima.

Paulo nos mostra como Deus proveu em Cristo nossa salvação: “Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne.” Rm 8. 3

Na cruz de Cristo, toda dívida foi anulada

Como Paulo fala: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Ef 2:8) Em Cristo na Cruz está tudo pago, está tudo consumado. Paulo confirma em Romanos 3. 24 que fomos justificados gratuitamente pela Sua Graça. 

Nós os que cremos entramos nos seu repouso. “Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás. Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram.

Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso, tal como disse: Assim jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso; embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo.” (Hb 4. 1-3) Paulo encerra a questão assim: “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado”. Rm 4. 8

Tudo isso irrompe numa constatação: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou.

Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”. Rm 8. 35-39

Na cruz de Cristo Deus se entende com Deus

Resta-nos apenas o tema principal do estudo a explicar a você: Como é que Deus se entende com Deus na Cruz de Cristo? Já percebemos que na Cruz de Cristo Deus estava pronto a destruir a humanidade.

A Ira de Deus, que deveria ter sido derramada sobre nós, foi derramada sobre Cristo. Porém mesmo assim, o momento da Cruz de Cristo foi um momento tenso na história humana.

Mas o que nos confirma que Deus estava se entendendo com Deus na Cruz de Cristo? Uma frase, apenas uma frase: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”. 

Quando Jesus foi crucificado, nós lemos em Mateus que os salteadores, que foram crucificados um a direita e outro a esquerda zombavam de Deus, dizendo como os outros: “Se você é Filho de Deus, desça da Cruz.” “E o mesmo lhe lançaram também em rosto os salteadores que com ele estavam crucificados.” Mt 27. 44

Porém lemos em Lucas que um dos dois bandidos se converteu a ponto de Jesus prometer que ele entraria ainda naquele dia, no Paraíso. O que aconteceu nesse ínterim que fez com que um dos homens se convertesse em plena crucificação, como lemos em Lucas 23?

O relato da crucificação (Lc 23. 33-46)

Em Mateus os dois salteadores duvidavam de Jesus, entretanto quando chegamos em Lucas, lemos que um dos dois homens se convertera. O que o fez mudar de rumo, ainda na hora da sua morte? 

Essa mudança de rumo obrigatoriamente deve ter partido de Jesus, mesmo que estivesse crucificado. A única coisa que a Bíblia relata que Jesus fez até esse ponto na Cruz, foi uma oração, ou o irrompimento de uma oração. Essa a oração foi aquela que mudou a história.

Estamos no momento da Cruz, aquele que sem o saber, inspirado pelo Espírito Santo, Jó profetizou. Aqui é Deus com Deus. Não há anjo, não há criatura, não há quem possa dizer absolutamente nada. 

Esse momento é único na história e na eternidade. Toda a história e toda a eternidade convergem a olhar para a Cruz de Cristo. Esse é o momento em que Deus põe em cheque toda a criação que fez.

Deus se entende com Deus na Cruz e o Deus Filho intercede pela humanidade caída perante o Deus Pai. Sabemos que havia um debate intenso, pois Jesus não aguentando irrompe em voz alta a sua oração silenciosa. Apesar de que na Cruz Jesus estava perante Deus, no Céu, intercedendo por nós. 1 João 2. 1,2

Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem

Era insuportável para Deus ver o seu filho na Cruz. Jesus intercede pela humanidade irrompe em palavras legíveis, tão cheias de emoção e amor, como nunca vistas antes: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.”.

Ao lermos Jó e entendermos que Deus permite o sofrimento humano, como meio de provação ou teste. Entendemos Deus não quer que ninguém se perca, mas que sejam aperfeiçoados.

Vemos Jó desprezando a Satanás e invocando Deus para contender com Deus. Não há ninguém maior do que Deus para defender a sua causa diante de Um igual.

Aquela oração que Jesus fazia em secreto, no seu coração, na sua mente, no seu espírito, enquanto estava em sangue, suor e lágrimas na cruz, foi ouvida por Deus no momento em que Deus derramava toda a sua ira sobre a Cruz e o crucificado. 

A aceitação da oração de Jesus por Deus, quando saída do seu coração, onde algumas pessoas que estavam ali, ao redor da sua Cruz, entenderam, os convenceu que ali estava o Cordeiro.

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O verdadeiro sacrifício. O verdadeiro Sumo-Sacerdote, oferecendo pela ultima vez o ultimo sacrifico. Depois desse nenhum mais seria necessário. Agora, pela fé podemos nos apropriar desse perdão, dessa graça, dessa salvação. Somos justificados no Filho, nosso legítimo advogado de defesa nos salvou da ira de Deus.

Deus se entende com Deus na Cruz de Cristo e o Deus Filho, como nosso Advogado de Defesa, nas palavras de Jó defende a causa do homem perante Deus, como quem defende a causa de um amigo.

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Categories: Estudo Bíblico

Juraci Rocha

Juraci Rocha é o editor do site Filhos de Ezequiel. Os escritos de Juraci Rocha são informativos, envolventes, divertidos e desafiadores. É instrutivo ler seus estudos e conhecer seus pontos de vista práticos e profundos sobre o tecido da fé cristã.

Na cruz de Cristo Deus se entende com Deus (O sofrimento de Jó)

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